Há quem diga que para conhecer o Rio é necessário visitar seus principais pontos
turísticos como o Bondinho, Cristo Redentor as praias da Zona Sul, e a malandragem da Lapa. O Rio é mesmo
multifacetado e dentre seus inúmeros retratos, destacaria sob um olhar inusitado a Central do Brasil.
Poderia ser uma simples estação de trem, o fato é que transcende a qualidade de não-lugarcomo diria Marc Augé, um espaço apenas de passagem com encontros e desencontros mal acabados.
A central às 18:00 hs da tarde é um espetáculo que vale apena assistir. É um mundo de gente que se esbarra e corre desesperadamente para todos os lados. É como jogar um mario Kart na vida real. Não há tempo hábil para se pedir desculpa por um entroncamento, o trem não pode esperar.
Assim que compram seus bilhetes e atravessam a roleta, as pessoas aguardam ansiosas o anúncio da linha e plataforma que desejam embarcar. É uma espera incessante, é possível sentir a angústia e agonia... Todos os olhares se voltam unicamente para a tela que exibe o horário das m inhocas de metal. E como num passo de mágica, a pseudo-calmaria se esvai no instante em que a linha é anunciada. Volta a correria.
Como se não bastasse, a multidão se aglomera nas plataformas para esperar o trem.... que vem lentamente , o empurra empurra já começa ali, o nível de adrenalina dispara. Quem vai conseguir sentar? A viagem é longa e nessa luta... vale tudo. Ao abrirem as portas, todos querem entrar e sentar ao mesmo tempo, pode ser criança, jovem, idoso... nao importa e se não tomar cuidado você pode perder os sapatos, a bolsa e até cair feio no chão. É como um balé às avessas, os que conseguem seu lugar esbanjam a satisfação de vitória em seus semblantes, os que ficaram de pé... olham agora com olhar de misericórdia para os que estão sentados, como se num ato quase que divino, algum voluntário se oferecesse para segurar suas bolsas.
Agora não tem mais jeito, o trem não para de encher e nesse meio de transporte dois, três ou mais corpos definitivamente ocupam o mesmo lugar no espaço. Quase perto da partida, eis que a voz anuncia que o presente transporte não dará partida, indicando uma nova plataforma. A luta recomeça, o povo corre desvairado e desconsolado. E quando finalmente o trem resolve seguir seu destino, a adrenalina dá lugar à paciência. Muita calma nessa hora, afinal são duas horas de viagem até em casa.
De uma forma distanciada é até bem engraçado, o problema é que são histórias de milhares de brasileiros que parecem carregar o Brasil nas costas... todos os dias.

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